"Jesus é o Senhor" Dom Alberto Taveira Corrêa - Arcebispo
Metropolitano de Belém
A cena do
julgamento foi bem preparada, começando nas tramas e armadilhas urdidas contra
Jesus. Tudo serviu para compor o drama, dentro de um quadro bem definido no
jogo do poder.
Alguém devia ser eliminado!
De fato “os sumos sacerdotes e os fariseus reuniram o sinédrio e discutiam:
‘Que vamos fazer? Este homem faz muitos sinais. Se deixarmos que ele continue
assim, todos vão acreditar nele; os romanos virão e destruirão o nosso Lugar
Santo e a nossa nação’. Um deles, chamado Caifás, sumo sacerdote naquele ano,
disse: ‘Vós não entendeis nada! Não percebeis que é melhor um só morrer pelo
povo do que perecer a nação inteira’? Caifás não falou isso por si mesmo. Sendo
sumo sacerdote naquele ano, profetizou que Jesus iria morrer pela nação; e não
só pela nação, mas também para reunir os filhos de Deus dispersos” (Jo
11,47-51).
Jesus está diante
de Pilatos (Jo 18,33-37), a multidão pede sua morte, as autoridades conspiram.
Prefere-se Barrabás a Jesus. E este Jesus se proclama Rei! Aos olhos de todos,
é um rei bufão. Está vestido com um manto vermelho certamente esfarrapado,
sobre a cabeça uma coroa de espinhos e seu cetro é uma cana. Ridículo! Terão
dito os passantes! No entanto, ele diz ser Rei e que seu Reino não é deste
mundo! Há que se posicionar a favor do trono representado por Pilatos, ou
daquele que, sendo Rei parece apenas fazer parte de uma comédia de mau gosto.
Mesmo distantes da
cena, demos um jeito de entrar no palco ou na plateia. Ali, há dois mil anos os
homens e mulheres de todas as línguas, povos e nações, podem participar e
passar da comédia à tragédia, desta às ruas, dali à crua realidade do Calvário,
diante do abandonado crucificado, para aguardar ansiosos a manhã da
Ressurreição e proclamar que Ele é Rei e Senhor. Ninguém fique de fora.
De quem foi a
vitória entre o Reino de Jesus e o Reino representado por Pilatos? Muitos
poderes se iludiram nestes mais de vinte séculos, ao pretenderem escrever a
palavra “fim” no processo chamado “Jesus”, pensando tê-lo liquidado
culturalmente ou politicamente. Reinos políticos ou filosofias se alternaram na
tentativa de reduzi-lo a personagem marginal da história, mas a pedrinha
profetizada por Daniel (Dn 2,34s) não cessa de atingir, uma depois da outra, as
muitas estátuas de argila que são os impérios terrenos, e estes ruíram
estrondosamente (cf. Raniero Cantalamessa, La Parola e La Vita, Città Nuova,
Roma 1990, Pág. 353). Sem adesão a ele, mais cedo ou mais tarde todos caem!
O confronto
continua e não é possível buscar uma conciliação fácil e superficial entre
Jesus, que é Rei e Senhor, com o espírito do mundo. Seu Reino continua não
sendo do mundo, mas ele veio para ser Rei, para dar testemunho da verdade e
provocar todas as pessoas, a fim de que escutem sua voz e tomem partido da
verdade. Quando Pilatos lhe perguntou, em meio a distraído muxoxo, “que é a
verdade?”, nem suspeitava que em Jesus se realizasse a palavra: “foi-lhe dada a
soberania, a glória e a realeza. Todos os povos, nações e línguas hão de
servi-lo. Seu poder é um poder eterno, que nunca lhe será tirado e sua realeza
é tal, que jamais será destruída (Dn 7,14)!
Aquele que era
ridicularizado pelas autoridades e pela multidão dali a pouco, Cordeiro
imolado, abriria o Livro da Vida. Ele “fez de nós um reino de sacerdotes para
seu Deus e Pai, a ele a glória e o poder, pelos séculos dos séculos. Amém. Ele
vem com as nuvens, e todo olho o verá – como também aqueles que o traspassaram.
Todas as tribos da terra baterão no peito por causa dele. Sim. Amém! ‘Eu sou o
Alfa e o Ômega’, aquele que é, que era e que vem, o todo-poderoso’ (Ap 1,6-8).
Na oferta de sua vida, que tem nome de salvação, quis incluir a todos: “Pai,
perdoai-lhes. Eles não sabem o que fazem” (Lc 23,34). E depois um dos ladrões
lhe disse: ‘Jesus, lembra-te de mim, quando começares a reinar’. Ele lhe
respondeu: ‘Em verdade te digo: hoje estarás comigo no Paraíso’ ”(Lc 23,42-43).
De fato, Jesus nos ama e nos libertou com o seu sangue. Esta é a Verdade
oferecida a todos os homens e mulheres de todos os tempos, mesmo aqueles que o
traspassaram ou os que carregam o fardo de seus muitos pecados!
Proclamar Jesus e reconhecê-lo Rei e Senhor, como faz a Igreja na Solenidade de Cristo Rei, tem consequências. É necessário fazer opções claras pelos valores do Reino de Deus e abandonar tudo o que a ele se opõe. Se o dinheiro, o poder, a vaidade e a insaciável busca de prazer ocuparem o espaço de nossas decisões cotidianas, tornando-se “deuses” – e falsos! – não haverá espaço para Jesus Cristo.
Proclamar Jesus e reconhecê-lo Rei e Senhor, como faz a Igreja na Solenidade de Cristo Rei, tem consequências. É necessário fazer opções claras pelos valores do Reino de Deus e abandonar tudo o que a ele se opõe. Se o dinheiro, o poder, a vaidade e a insaciável busca de prazer ocuparem o espaço de nossas decisões cotidianas, tornando-se “deuses” – e falsos! – não haverá espaço para Jesus Cristo.
Faz-se cada dia
mais necessário um caminho de discernimento, diante das “ofertas e
oportunidades” que nos são oferecidas, como num grande mercado de religiões!
Quem procura vantagens, confundindo Jesus Cristo com um fornecedor de carro do
ano, casa nova, roupas de grife, oportunidades imediatas de emprego, elogios de
todos, ou mesmo milagres fáceis como numa banca da feira da esquina, verá muito
cedo a estátua de barro desmoronar.
Quem resolver crescer e fazer opções claras no seguimento de Jesus Cristo verá consolidada uma existência cheia de sentido, terá herança de dignidade e retidão para transmitir às gerações que se seguirem, terá construído sua casa sobre a rocha, proclamando que Jesus é o Senhor e vivendo sua Palavra (cf. Mt 7,21-27), no cumprimento da vontade de Deus, que liberta e salva.
Quem resolver crescer e fazer opções claras no seguimento de Jesus Cristo verá consolidada uma existência cheia de sentido, terá herança de dignidade e retidão para transmitir às gerações que se seguirem, terá construído sua casa sobre a rocha, proclamando que Jesus é o Senhor e vivendo sua Palavra (cf. Mt 7,21-27), no cumprimento da vontade de Deus, que liberta e salva.
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